sábado, 2 de abril de 2011

O Alentejo, esse lugar (reed.)

Devagar, devagarinho me fui despedindo deste lugar.
Não do Alentejo a que sempre voltarei, ou a Miróbriga a que espero continuar poder continuar a estar ligada.

Mas há balanços que foram feitos, há lugares que foram tantas vezes revisitados que hoje necessito de me distanciar um pouco.

Novas tarefas me esperam e sei que tudo o que aqui foi escrito nelas se acabará por inscrever também.

Porque, como tantas vezes repeti, reencontamos sempre o que soubemos amar!



http://www.portugalromano.com/wp-admin/post.php?post=1135&action=edit

Porque, como tantas vezes repeti, reencontamos sempre o que soubemos amar!









À Mariana, sempre!
Ao Paulo, alentejano de Évora.
A todos os Alentejanos.










....


Este blogue foi concebido como uma espécie de «diário de bordo» ou "caderno de campo" de algumas viagens no Alentejo, com destino previamente (ou não) marcado, e de percurso nem sempre livre, pois escolhido ao sabor do tempo disponível e das tarefas que havia que cumprir e a que não podia falhar.
Pretendia, quando o imaginei, fazer como que apontamentos de situações, de momentos, de sensações, fixando «paisagens humanizadas» ou de geografias físicas e afectivas vivenciadas.




Guardar imagens de sítios, de lugares, onde me parecia restar um equílibrio entre o território, os seus habitantes, a sua história, o seu Tempo.
À medida que algumas dessas imagens foram sendo editadas, visualizadas e a sua selecção efectuada, muitas questões se foram levantando.

Que faria agora com elas?
Porque se teria fixado neste lugar ou noutro lugar a minha "eleição"?
Onde residiria nas imagens retidas o "equílibrio" que causara ao meu olhar?



Porque julguei vislumbrar aqui uma harmonia e não noutro lugar qualquer?

Considerei então ser importante anexar a este trabalho de captação fotográfica um conjunto de perguntas, algumas das quais sem resposta, e de reflexões, de memórias, de testemunhos, onde tentasse espelhar o que, inconsciente ou conscientemente, me deveria ter motivado a fixar determinados momentos e situações.
Talvez porque, subjacentes, estejam preocupações que desde há longa data me acompanham, aspectos para os quais gostaria de ter certezas, quando o que me continua a perseguir genericamente são dúvidas e a angústia de não saber afinal como se tece o equíbrio da vida, das suas memórias e geografias afectivas.
De desconhecer o segredo dessa fina rede ou malha que torna os Humanos mais felizes num tempo e num lugar.
Exactamente porque, quem sabe se por motivos profissionais ou outros, incorremos tantas vezes numa leitura quase pragmática dos lugares que visitamos, pois já urge o tempo para problematizar e resolver, pouco restando para o «estar» ou «sentir», gostaria de tentar fazer com este espaço uma espécie de caderno de campo das impressões que me causaram alguns percursos, sítios e paisagens do Alentejo onde as «margias» e as «calmas» ainda se conseguem espraiar.
Tentar partilhar um pouco do equílibrio inexplicável que ainda reside em cada um desses sítios que parecem, afinal, querer fugir a todas as dúvidas ou a todas as certezas que sobre eles se semeiam, tão alheios que se mostram estar de todas as nossas reflexões. Simplesmente estão lá, como que ETERNOS!


E contar, a meu modo as histórias que com eles conheci.

Aprender também com eles a aceitar que a História tem a sua própria História. E os Sítios, as pessoas, os sentimentos têm tempo, desgastam-se, consomem-se, findam-se levando com eles estórias desvendadas ou eternamente encobertas.

E que não podemos fugir sempre a esse tempo, mascarando-o de uma possível Eternidade, plastificando-o até ao seu limite físico, como se tratasse do retrato de Dorien Grey. ..

Mas, também, paralelamente, é verdade, sobrevivem como que por milagre na memória de todos nós se soubermos contar histórias partilhadas, manter os rituais, dar sentido à Palavra.

Foi, assim, minha intenção partilhar uma busca, um olhar, como que uma reportagem fotográfica, mostrando os múltiplos caminhos, que tantas vezes atravessei, no encalço de um lugar pré-determinado ou de um lugar qualquer. Assinalando presenças físicas actuais ou passadas e as marcas que deixaram/deixam no território e na paisagem: das pessoas que se fixaram; das que apenas os atravessaram.

Quem sabe, talvez assim possamos beber um pouco delas, das suas vozes, dos seus silêncios, ou dos seus mistérios e segredos.
Permitindo assim aos múltiplos «utilizadores» dessas paisagens que, para cada uma deles, os lugares desempenhem um papel que é afinal também só seu e atingir, desse modo, a Eternidade que mais não é mais do que uma busca, uma projecção sempre solitária e pessoal.






Hoje, três anos passados do meu regresso a Lisboa, tenho a sorte no Grupo «Alentejanos no Facebook» com o qual tive a sorte de ter podido, praticamente desde o seu início, através do convite formulhado por Luís Milhano, propor uma abordagem temática que corresponde a um trabalho de fundo que gostaria de poder desenvolver sobre o Alentejo através dos seus recursos, tendo como pano de fundo os QUATRO ELEMENTOS: TERRA, ÁGUA, FOGO E AR.
Partia do princípio que a todos eles correspondia um conjunto de recursos e de actividades em seu redor.
A TERRA será a primeira a ser tratada, pois à volta dos recursos agrícolas, agro-pecuários e da pastorícia se fixaram as gentes, desde a Pré-História, no Alentejo.
As construções em terra e a olaria não são senão os devirados dessa TERRA MÃE.
A ÁGUA faz do Alentejo uma Mesopotâmia e foram os rios, as represas e barragens que permitiram alagar terras e fertilizá-las e ainda trocar produtos, pois muitos deles eram navegáveis e escoavam os produtos agrícolas e os minérios.
O FOGO permitiu manipular os minérios e produzir carvão. É o FOGO que permite que nos fornos do Alentejo se coza o pão e se faça o Borrego assado e tantos outros pitéus.
O AR, como essência etérea, é aqui o elemento que servirá de base para o tratamento do SAGRADO, pois também desde tempos imemoriais o Homem não só se fixou como se relacionou com o Divino de várias formas e de acordo com todas as culturas e povos que ocuparam este território.
Será também o elemento escolhido para representar a música, o conto oral.

Ao Luís Milhano continuo a agradecer ter-me convidado um dia para esta viagem nos «Alentejanos no Facebook» e a confiança que em mim depositou, podendo, deste modo, aprender cada vez mais a conhecer tão extraordinário território!

E voltarei sempre ao Alentejo!

2 comentários:

cris disse...

bELO TRABALHO QUE AQUI ESTÁ: PARA O TEU CADERNO DE VIAGENS ELECTRÓNICO A MAIOR FORÇA. O PATRIMÓNIO MERECE(TE :) E O TEU SERVIÇO COM ESTA PUBLICAÇÃO É DO MAIOR AMOR POSSÍVEL AO NOSSO PAÍS. ÉS UMA HERDEIRA ESSENCIAL, NA LINHA DA MARIA LAMAS. COMO ALGUÉM DIZIA NA ALTURA DA EXPO'98, TEMOS DE SER BONS ANTEPASSADOS. CONTIGO, ESTAMOS BEM. OBRIGADA PELA MINHA PARTE.
UM BEIJO
CRIS

clickit disse...

Com o tempo próprio do distanciamento físico e a interioridade do sentir. Organizando a busca de lugar: Eternidade.
Por mim, já o disse, merecia publicação e divulgação. Que tão arredida anda a fé nos nossos lugares. O fervor de os ter, o orgulho de os conservar.
Parabéns, Filomena.
Bjinho