sábado, 15 de agosto de 2015

A LUSITÂNIA, Filomena Barata

CULTURA//ANO 3
EDIÇÃO 37 - AGOSTO 201 Incomunidade
Filomena Barata

A LUSITÂNIA
http://www.incomunidade.com/v37/art.php?art=60


Na imagem: Arco romano de Beja. Fotografia de Filomena Barata

«Os romanos, chegados à Península em 218 a. C., instalaram-se, de início, sobretudo no Sul (actuais Alentejo e Algarve, no que respeita ao futuro território português), através de acordos, mais do que pela violência bélica. Já nas regiões situadas entre o Tejo e o Douro, as populações autóctones, sobretudo os lusitanos, resistiram aos romanos durante cerca de cem anos, de meados do século II a. C. a meados do séc. I a. C. Vencida esta resistência, por volta de           25 a. C. o domínio romano abrangia todo o futuro território português. Poucos anos depois (...), sob o imperador Augusto, a Península foi divida em três províncias (Terraconense, Bética e Lusitânia), mas no final do século III existiam cinco (além das três anteriores, também a Cartaginense e a Galécia). O que viria a ser Portugal jamais coincidiu, nos seus limites territoriais, com alguma destas províncias. A Lusitânia não abrangia a zona norte do Douro (integrada na Galécia) e abarcava uma vasta área da actual Estremadura espanhola, tendo mesmo a sua capital em Emerita Augusta (Mérida).» 
Em História de Portugal de Rui Ramos (coord.).


Lembro-me do ruído que, diziam os Antigos, o sol fazia ao pôr-se no Ocidente.

Era ainda para os Romanos estranho ver o Astro Rei ser engolido pelo mar ao Ocidente ou como se afirma na descrição de Avieno, na sua Ora Marítima, sobre o Cabo de S. Vicente:

“Então, lá onde declina a luz sideral, emerge altaneiro o Cabo Cinético, ponto extremo da rica Europa, e entra pelas águas salgadas do Oceano povoado de monstros”, sabendo-se que foi dedicado um templo a Saturno no Promontorium Sacrum.

A “Ora Maritima”, de Avieno, escrita no século IV d.C., mas que se baseia fundamentalmente num périplo comercial massaliota do século VI a.C., se bem que com posteriores acrescentos fundamentados em informações gregas e latinas, continua a ser o texto mais antigo que se conhece descrevendo o Ocidente da Ecúmena e, consequentemente, a costa do Sudoeste e Sul peninsular. Apesar de continuar a levantar questões de vária índole, que se prendem com aspectos geográficos, etnológicos, gentílicos, e outros, ela é ainda uma fonte importante de informações sobre esta zona.

Mas recordo ainda o que tantos autores da Antiguidade diziam sobre o território que virá a ser a província romana da Lusitânia e que, ainda no século I a.C., a maioria dos Romanos considerava uma Finis Terrarum.

Várias são, portanto, as referências de autores Gregos e Romanos ao território a que nos dedicaremos, designadamente o Sul, sendo a descrição do geógrafo grego Estrabão no livro III da Geografia, no século I a.C. a que mais exaustivamente se prende à descrição da Hispânia, iniciando-se praticamente uma das mais pormenorizadas no que diz respeito à área compreendida entre o Estreito de Gibraltar e o Cabo de S. Vicente.

O geógrafo refere-o, tal com se verifica no texto acima citado de Avieno, como o ponto mais ocidental da Ibéria: «Este é o ponto mais ocidental não só da Europa, mas também de toda a oikouméne» (Estr. III, 1, 4).

Por sua vez, Estrabão dá-nos também nota que «Nas margens do rio (trata-se do Tagus/Tejo) fortificou Olisipo para ter mais livre o curso da navegação e o transporte dos víveres (...) O rio é muito rico em peixe e abundante de ostras» (Estrabão, Livro 30, I Parte), referindo-se a um dos momentos da conquista da Lusitânia por Décimo Júnio Bruto, em finais do século II a.C., quando encontra junto ao estuário do Tagus a antiga povoação de Olisipo, entreposto de Fenícios e Gregos.

Plínio (23 d.C - 79 d.C, na sua História Natural, tem variadíssimas referências à Lusitânia, remetendo-nos aqui à tradução comentada Amílcar Guerra na sua obra «Plínio-o-velho e a Lusitânia», trabalho fundamental para o reconhecimento desse território.

Assim nos informa Plínio: «O Tejo dista do Douro duzentas milhas, ficando entre eles o Munda. O Tejo é famoso pelas suas areias auríferas. Distando dele cento e sessenta milhas, ergue-se o Promontório Sacro, aproximadamente a meio da parte frontal da Hispânia». (Plínio H.N. 4, 115).

Refere ainda Varrão (116 a.C — 27 a.C.). que (...) entre o Anas e o Promontório Sacro habitam os Lusitanos. Para lá do Tejo, as mais notáveis cidades da costa são Olisipo, célebre pelas éguas que concebem do favónio, Salácia, cognominada urbs Imperatoria, Meróbriga e, entre os promontórios Sacro e Cúneo, os ópidos se Ossónoba, Balsa e Mírtilis», (Plínio H.N. 4, 116).

A constituição oficial em Província, em 27 a.C., fruto da Reforma Administrativa de Augusto, vem alterar o estado das coisas e assiste-se a uma progressiva romanização do território e à criação de centros urbanos polarizadores do crescimento, pois a urbs é o símbolo por excelência da romanidade.

É nessa data que a anterior Provincia Ulterior se divide em Lusitânia e Bética, fazendo parte dela, genericamente, a região compreendida entre o rio Anas e o extremo norte da Península.

Continuam, contudo, ainda confusas as fontes latinas no que se refere à delimitação da Lusitânia, encontrando-se em Estrabão a definição do seu território do seguinte modo «A norte do Tejo estende-se a Lusitânia (…). Delimitam esta região do lado sul, o Tejo, do lado oeste e norte o oceano (Atlântico), a este, as terras dos carpetanos, vetões, vaceus e os galaicos, apenas para citar os mais conhecidos. Os restantes povos não são dignos de menção pela sua reduzida dimensão e importância, embora, contrariamente ao que afirmámos, alguns autores modernos chamem também a estes Lusitanos» (Est. 3,3,3).
Aceita-se que, ainda ao tempo de Augusto, em 14 a.C., o território a norte do Douro terá saído da Lusitânia, passando a entrar na esfera de influência da Citerior ou da Tarraconense.

Mas nem assim podemos encontrar correspondência entre a província romana e o território actualmente português, sendo difícil aceitar, deste modo, a filiação étnica a que nos quiseram confinar ao longo de séculos de História.

Não, não quero dedicar-me a «Viriato: genealogia de um mito», esse caudilho lusitano a que Amílcar Guerra e Carlos Fabião dedicaram um brilhante trabalho com esse nome de que tanto me socorri agora, trabalho onde se analisa a forma como se constituiu em seu torno uma mitologia nacionalista, pois foi o herói da resistência à ocupação romana, apenas vencido pela traição, de cuja nascença nada se poderá fazer coincidir com o que virá a ser o território da Lusitânia e muito menos Portugal.

Mas é a esta Terra da Luz que quis dedicar umas linhas, pese a dificuldade em defini-la como geografia ou etnia.

Terra conquistada que foi por Romanos ao som da guerra, como diz Carlos Fabião, teve Marte como companheiro, «o deus da guerra na complexa religiosidade romana, onde assumia também outras funções. Usualmente aparece representado com os atributos militares e, pode dizer-se, foi sob a égide desta divindade que se construiu o domínio romano na Península Ibérica».

É no fundo sob a égide de Marte que os Romanos chegam à Hispania, no contexto da II Guerra Púnica que opunha Roma aos Cartagineses que viam neste território um bom ponto de apoio para os seus exércitos. E é assim que, em 218, se dá o desembarque dos Romanos em Ampúrias e devagar se conquistam os principais núcleos urbanos do sudoeste da Península Ibérica e, no século II, já está desenhada a primeira divisão administrativa com a criação de duas Províncias: a Hispania Citerior, a oriente, e a Hispania Ulterior, a Ocidente, estando à frente de cada uma delas um Governador com o seu exército.

Durante todo o século II a.C., são conhecidas notícias de numerosos confrontos entre os governadores da Provincia Ulterior e grupos cuja origem étnica parece ser diversa, conhecidos genericamente por Lusitanos.

Desde 154 até 78 a.C.,surgem várias referências à cidade de Conistorgis (de localização desconhecida mas provavelmente no local da futura colónia de Pax Iulia/Beja ou um pouco mais a sul), primeiro como centro aliado dos romanos e alvo de ataques lusitanos e depois como aquartelamento legionário estratégico nas guerras civis do sudoeste peninsular.

Não me prenderei porém aqui com as lutas travadas no território hoje nacional, referindo apenas que o geógrafo Estrabão e o historiador Apiano nos dão nota da primeira grande campanha militar desenvolvida no ocidente em 138 a.C., tendo à frente Júnio Bruto, governador da Ulterior e que tinha o seu quartel-general sediado no Baixo Tejo, usandoOlisipo e Móron, muito possivelmente localizado em Chões de Alpompé, Santarém, confrontos esses que se alastrarão a outros locais do litoral atlântico na Provincia Ulterior.

Na década de oitenta do século I a.C., o Ocidente Peninsular e a Hispânia tornam-se palco de um conflito interno entre Romanos, a rebelião encabeçada por Quinto Sertório.

Data da década de 60 a.C. a passagem de Júlio César pelo governo da Ulterior e as importantes campanhas no entre Tejo e Douro, ficando grande parte desta zona ocidental sob domínio romano.

É com Octaviano, filho adoptivo de Júlio César, que se consuma a pacificação do território, e o desenho de uma nova estrutura político administrativa das províncias, a que não esteve isenta a Hispânia e, mais especificamente, o que hoje é território português.

Surgem as províncias e os conventos de que Pax Iulia, fazendo-lhe juz no nome, assume particular importância a Sul da Lusitânia.

A emergente Lusitânia, essa terra da Luz e do Ocidente, cruzamento multisecular de gentes e culturas, tem, contudo, ainda o seu destino ainda por cumprir e um grande esforço de pesquisa para fazer para que se conheça melhor a sua área de influência.

A ela me dedicarei, portanto, numa próxima crónica, deixando o repto para que nos acompanhem num blogue que lhe será dedicado, ou na página criada no Facebook, tentando apreender melhor, com a participação de investigadores, arqueólogos e cidadãos em geral, a sua fisionomia e as manifestações culturais que tanto rasto deixou a Lusitânia romana e pretendendo criar um banco de dados bibliográfico referente às suas cidades.
http://mirobrigaealusitania.blogspot.pt/
https://www.facebook.com/pages/A-Lusit%C3%A2nia/1601483676800140?ref=hl
Na imagem: Conduta de água dos balneários de Miróbriga. Fotografia Luis d’el Rey.


Filomena Barata, 
Mestrado em Arquologia, Universidade do Porto
Técnica Direcção Geral Património Cultural


Pretende-se que este espaço viabilize:

1 - uma maior permuta de conhecimentos científicos entre os territórios que outrora se relacionavam;
2 – A criação de um banco de dados sobre a Lusitânia;
3 - o conhecimento dos locais que aqui tratamos, através de visitas organizadas aos mesmos.

Temas aglutinadores:
Mundo Urbano
Mundo Rural
O Mundo dos Mortos

Vias de Comunicação

O Atlântico e o Mediterrâneo

A Religião

A Epigrafia

As profissões

A Circulação Monetária

Recursos;
Hídricos
Agrícolas
Mineiros
Minerais
Piscatórios

A construção civil
A produção cerâmica
A produção vítrea
A produção mosaísta
A ourivesaria

O Património Móvel - Museus e Centros Interpretativos.

A Memória dos Sítios

Informações gerais

Foi assim este blogue, como acima se menciona, para apoiar a página (http://mirobrigaealusitania.blogspot.pt/)

e é nossa intenção desenvolver uma plataforma mais estável do que o Facebook que permita salvaguardar todos os dados partilhados e criar um banco de dados sobre o Património Móvel e Imóvel romano, existente na Lusitânia.

É ainda nossa intenção interagir com investigadores, bem como com outros Grupos dedicados à Arqueologia Romana, sejam portugueses ou espanhóis, alguns dos quais com ampla e reconhecida experiência da divulgação científica e patrimonial, designadamente o Portugal Romano e o Terrae Antiqvae, entre outros.
Contamos com o vosso contributo e apoio!

Filomena Barata
https://independent.academia.edu/FilomenaBarata

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sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Historiografia de Miróbriga. (actualizado de 18.Nov.2012)

Poderá consultar os textos dos painéis Aqui









“Miróbriga, (..) conta histórias, através de
cada estrutura, de cada construção ou objecto
que, ao virar da esquina, se encontra.
É dessas histórias dentro da História de
um lugar mágico como Miróbriga que nos
fala a presente exposição: do tempo de vida
da cidade e do tempo de quem por lá
passou.
Sobre Miróbriga, como de cada cidade,
se contam e contaram tantas histórias, diferentes,
ao longo dos séculos. De acordo
com o que souberam e puderam ver os vários
investigadores, passeantes ou contadores
de estórias que por lá estiveram, pelo
menos desde o século XVI, data que o
nosso Humanista André de Resende dá a
conhecer a cidade.”




Miróbriga, o Tempo ao longo do Tempo

Uma cidade do Passado é como uma outra cidade qualquer.

Miróbriga fala dela própria, através da sua topografia, adaptando-se em anéis ou “circunvalações” ao terreno onde se implanta.

A cidade tem uma imagem de si própria, centrando no lugar mais alto os locais de culto e de decisão política e administrativa; espraiando nas encostas as estruturas comerciais e outros serviços, os balneários e o casario.

A cidade espreita ao longe o Oceano, Sines esse porto de mar já romanizado, abastecedor e escoador dos produtos píscicolas que, nas lagunas que se formam em seu redor, se multiplicam como que em viveiro extraordinário.

Espreita ainda a serra do Cercal, fornecedora de minério e de alimento.

Mas Miróbriga, como qualquer outra cidade, conta histórias, através de cada estrutura, de cada construção ou objecto que, ao virar da esquina, se encontra.

As calçadas, de lajes fortes, serpenteiam as colinas, organizando os bairros, o casario; as soleiras das portas indiciam as habitações ainda escondidas.

Sobre Miróbriga, como de cada cidade, se contam e contaram tantas histórias, diferentes, ao longo dos séculos. De acordo com o que souberam e puderam ver os vários investigadores, passeantes ou contadores de estórias que por lá estiveram, pelo menos desde o século XVI, data que o nosso Humanista André de Resende dá a conhecer a cidade.

É dessas histórias dentro da História de um lugar mágico como Miróbriga que nos fala a presente exposição: do tempo de vida da cidade e do tempo de quem por lá passou.

Mas a mostra é também um repto para um trabalho imenso ainda a fazer e que nos propomos agora enceter.

Bem haja a todos que partilharam e partilharão do caminho percorrido e a percorrer, mesmo que anónimos nesta exposição.

Texto: Maria Filomena Barata 
Direcção Regional de Cultura do Alentejo




Ficha Técnica da Exposição:



Titulo: Miróbriga, o Tempo ao longo do Tempo | História e Historiografia | Investigação em Miróbriga
Coordenação: Fernanda Vale – Câmara Municipal de Santiago do Cacém/Museu Municipal
Concepção: José Matias, Fernanda Vale
Programação Museológica: José Matias, Filomena Barata, Fernanda Vale
Programação Museográfica: José Matias, Fernanda Vale
Colaboração Cientifica: Filomena Barata – Direcção Regional de Cultura do Alentejo
Investigação: José Matias, Fernanda Vale, Filomena Barata, Gentil Cesário
Textos: Filomena Barata, Fernanda Vale
Créditos Fotográficos: Câmara Municipal de Santiago do Cacém | José Matias | Direcção Regional de Cultura do Alentejo / Sítio Arqueológico de Miróbriga | Filomena Barata | Museu Municipal de Santiago do Cacém |
Dr. Cruz e Silva | D. Fernando de Almeida | Abel Viana
| Equipa Luso-americana | Biblioteca Pública de Évora
| Museu de Évora | Museu Nacional de Arqueologia | Museu Arqueológico Municipal José Monteiro / Câmara Municipal do Fundão | Família Lobo de Vasconcellos
Créditos das Gravuras: Direcção Regional de Cultura do Alentejo / Sítio Arqueológico de Miróbriga | Câmara Municipal de Santiago do Cacém / Museu Municipal de Santiago do Cacém | Museu Nacional de Arqueologia
| Biblioteca Pública de Évora | Dr. Cruz e Silva | Padre António de Macedo e Silva | Dário de Sousa | Equipa Luso-americana | Andrea Alves e Nuno Cruz | Leite de Vasconcellos | Verene Willert e Steffen Haendler
Design Gráfico: Multitude, Design e Impressão Digital, Lda – Pedro Bexiga e José Chainho
Montagem: Câmara Municipal de Santiago do Cacém/ Divisão de Serviços Urbanos: Sector de Carpintaria, Sector de Pintura, Sector de Electricidade, Serviços Gerais, Sector de Limpeza
Transporte e Apoio Logístico: Câmara Municipal  de Santiago do Cacém/Divisão de Serviços Urbanos:
Serviços Gerais, Câmara Municipal de Santiago do Cacém/Divisão de Obras Municipais: Sector de Transportes, Feirexpo Logística Para Feiras e Exposições, S. A.
Impressão dos Painéis: Multitude, Design e Impressão Digital, Lda
Impressão de Materiais de Divulgação: Gráfica Santiago
Divulgação: Câmara Municipal de Santiago do Cacém/ Serviço de Informação e Relações Publicas e Serviço de Informação e Documentação
Conservação e Restauro: ARCHEOFACTU, Arqueologia e Arte, Lda
Organização: Câmara Municipal de Santiago do Cacém/ Museu Municipal
Colaboração: Ministério da Cultura, Direcção Regional de Cultura do Alentejo/Sítio Arqueológico de Miróbriga

Ficha técnica do Catálogo

Titulo: Miróbriga, o Tempo ao longo do Tempo | História e Historiografia | Investigação em Miróbriga
Coordenação: Gentil Cesário, Rui Fragoso Câmara Municipal de Santiago do Cacém/Gabinete de Reabilitação Urbana e Património
Concepção: Gentil Cesário
Colaboração Cientifica: Filomena Barata – Instituto dos Museus e da Conservação
Investigação: José Matias, Fernanda Vale, Filomena Barata, Gentil Cesário
Textos: Filomena Barata, Fernanda Vale
Transcrições: Gentil Cesário


https://www.academia.edu/812749/Historiografia_de_Mir%C3%B3briga
























Este texto retoma parcialmente um dos capítulos tratados na tese de mestrado apresentada à Faculdade de Letras do Porto em 1997 que, por motivos vários, acabou por não ser editada, e alguns elementos recolhidos recentemente e trazidos a lume através do acervo documental e fotográfico do Museu Municipal de Santiago do Cacém que permitiram a realização da exposição intitulada «Miróbriga: o Tempo ao longo do Tempo», em 2008.

À Câmara Municipal, que me convidou a colaborar na mesma mostra, à Dra Fernanda Vale, ao Gentil Martins e ao José Matias, agradeço o excelente espírito de equipa que permitiu que esta exposição tivesse o sucesso que teve, pois Miróbriga e Tróia podem considerar-se no seu conjunto como que o espelho da actividade arqueológica em Portugal, a Sul do Tejo, desde o século XVI.
Refiro que todas as imagens de painéis aqui publicados se tratam dos materiais que fizeram parte dessa exposição.

1.– Dos Humanistas ao século XIX

Miróbriga tem sido, como a maioria dos sítios da Antiguidade, sujeita a vários tipos de intervenção ao longo dos séculos, sendo algumas planeadas, das quais nos ficaram ou parcelares memórias e descrições ou relatórios e publicações; outras de «recolha», fruto de coleccionismos privados; e ainda as de «saque» puro e simples, contribuindo para que se tenha perdido grande parte da informação sobre este local.
A confirmar estas últimas situações está a pequena quantidade de elementos arquitectónicos e de estatuária, pesem algumas referências escritas sobre a existência dos mesmos (FALCÃO: 1931), e os exemplares depositados no Museu de Santiago, tais como bases de estátuas, colunas, capitéis, frisos, entre outros, que nos fazem vislumbrar a imponência de algumas das construções de Miróbriga.
Refira-se ainda que grande parte dos elementos construtivos foram reutilizados na edificação do castelo medieval de Santiago do Cacém, sendo ainda presentemente visíveis muitos deles.
Data de 1517-1518 uma «Visitação da Ordem de Santiago» ao Hospital do Santo Espírito na qual nada se refere a propósito da inscrição dedicada a Esculápio, possivelmente porque o local onde a mesma foi colocada pertencia à Câmara e só numa fase posterior foi alugada pela Misericórdia . Cai, portanto, por base a ideia de que a ara dedicada a Esculápio aí tivesse sido posta a propósito das suas conotações medicinais. Quanto muito o local escolhido para a sua colocação tem a ver com o reforço da ideia de municipalidade. De qualquer modo, e a admitir que a recuperação da mesma se deva ao humanista André de Resende, questão sobre a qual não há confirmação, pode inferir-se que fosse em data mais avançada do que a referida «Visitação».

André de Resende, retomando as referências de Plínio, referia-se a uma povoação outrora chamada Merobrica, no seu De Antiquitatibus Lusitaniae, lib. 4, publicado em 1597.
A existência de vestígios de muralhas cercadas de torres, de um aqueduto , de uma ponte e de uma fonte correndo de uma pedra quadrada , fizeram-no concluir que no local teria havido uma «antiga cidade». Resende estudou algumas inscrições provenientes de Miróbriga, algumas das quais posteriormente consideradas falsas ou fruto da imaginação do estudioso humanista.
Data de 1610 a obra de Duarte Nunez de Leão «Descripção do Reino de Portugal», que dá conta da existência de uma cidade romana, identificando Miróbriga com o local que hoje conhecemos.
Durante os séculos XVI e XVII as notícias especificamente dedicadas a Miróbriga são escassas. As Visitações da Ordem de Santiago não nos dão muitos elementos sobre o Sítio, ao contrário do que acontece com alguns outros vestígios arqueológicos .
No entanto é muito curiosa uma carta Hispaniae Antiquae Tabulae de 1641, existente no Museu de Sines, onde Merobriga aparece identificada com o local que estudamos e integrada no Conventus Pacensis.
Em 1720, o Marquês de Abrantes, um dos fundadores da Academia Real da História, foi a Miróbriga para estudar as inscrições, tendo feito uma leitura parcial da inscrição consagrada a Esculápio (FALCÃO et alii, 1988: 41).



D. Frei Manuel do Cenáculo, enquanto Bispo de Beja , visitou Santiago do Cacém, em 1800, para a sagração da Igreja Matriz que havia sido destruída pelo terremoto de 1755 e que muito afectou toda a vila.
Logo nessa altura, em 1801, se iniciaram em Miróbriga escavações por ele patrocinadas, que foram retomadas em 1808. O responsável pelas mesmas foi o pároco de Santiago, Padre Bonifácio Gomes de Carvalho, tendo sido os materiais aí exumados integrados inicialmente no «Museo Sezinando Cenaculano Pacense», em Beja, e, mais tarde, quando já Arcebispo, na cidade de Évora, colecção essa que esteve na origem da criação, na Primeira República do Museu de Évora.








De finais do século XVIII, datam os manuscritos do Padre Bernardo Falcão, intitulados «Memorias sobre a Antiga Mirobriga» e que foram parcialmente dados a conhecer em jornal da região, Nossa Terra, nos anos trinta da nossa centúria. Este estudioso defende que em Miróbriga, de fundação Cipriota, existiria um templo dedicado a Vulcano, como o comprovaria uma estátua encontrada no local e a existência de mineração de ferro desde remotíssima época. Influenciado pela historiografia alcobacense e por Frei Bernardo de Brito, pretende fazer remontar a fundação de Miróbriga aos descendentes de «Thubal» .
Bernardo Falcão refere no seu texto que, aquando da visita, em 1755, do «Rev.mo Padre Mestre Frei Alexandre da Sagrada Família (ao) dito sítio de São Brás, descobriu uma pedra de bom lavor quebrada». Tratava-se de uma lápide com a inscrição PORTA CIVITA, que denunciaria a existência de uma porta da cidade. Desconhece-se, contudo, o paradeiro desta inscrição.
Em 1869, o Padre Macedo e Silva publicou um importante estudo sobre Santiago do Cacém, Annaes do Município de Sant’Iago do Cacém, onde, na primeira parte, dedica atenção às origens remotas do Município e nomeadamente às ruínas da antiga «Merobriga», cuja origem admite remontar a uma fundação «celtico-phenicia». Este estudioso transcreve no seu trabalho algumas inscrições lapidares da antiga povoação (SILVA, 1869, I: 11) e faz sumária alusão ao estatuto municipal que a mesma teria em período romano.
Dos séculos XIX e XIX data também um conjunto de obras de carácter enciclopédico «Diccionários chorográphicos» e «Geográficos» que aludem à fundação de Miróbriga, prevalecendo em quase todos elas explicações míticas ou especulativas para a mesma. No Portugal Antigo e Moderno de Pinho Leal aceita-se como possível a fundação céltica da «povoação de Mero» .

2. O século XX e a investigação em Miróbriga

José Leite de Vasconcelos, fundador do Museu Ethnológico Português, dá-nos conhecimento, em 1914, de uma série de vestígios arqueológicos situados nas proximidades de Alcácer do Sal, Santiago do Cacém e Sines.
Este investigador descreve Miróbriga como tratando-se de um oppidum, «onde se distinguem três aterros ... amparados por muralhas exteriores, construídas de fiadas de pedra postas horizontalmente e cimentadas, muralhas de que só restam alguns lanços» (VASCONCELOS, 1914: 315).


Ainda segundo este autor «O tipo d’esta fortificação (é a) dos castros proto-históricos (não havendo) porém dúvida que ela recebeu grande influencia romana, revelada nas muralhas, nas casas e nos achados» (VASCONCELOS, 1914: 316).
Neste artigo, Leite de Vasconcelos descreve algum do espólio proveniente de Miróbriga, em posse de um particular, e transcreve os textos de quatro inscrições que viu «num tanque à entrada da vila», que admite serem cópias. Deveria tratar-se, de facto, de cópias das inscrições que foram colocadas junto ao chafariz da Senhora do Monte, em Santiago do Cacém.
Refere ainda a inscrição consagrada a Esculápio, que se encontrava «na parede do antigo hospital da vila».
No entanto, e apesar das notícias anteriores, num roteiro da Vila de Santiago, de 1938, no que respeita ao aglomerado urbano de Miróbriga são ainda apenas referidas as «termas romanas» (VILHENA, 1938: 30-31), o que demonstra que só a partir das escavações promovidas por Cruz e Silva, a partir da década de 20, foram melhor conhecidos os restos da antiga cidade .
A primeira metade do século XX assiste ainda à divulgação jornalística de alguns sítios do Passado e Miróbriga e os seus investigadores não passaram despercebidos, quer na rádio, quer nos jornais regionais, como o «Merobriga», quer nacionais, a exemplo do «Álbum Alentejano».
As publicações no jornal Nossa Terra, nos anos trinta, dos manuscritos do século XVIII de Bernardo Falcão «Memórias da Antiga Miróbriga», permitiram, de novo, chamar a atenção sobre este sítio arqueológico.
A criação das Pousadas de Portugal e, mais especificamente, a de Santiago do Cacém, uma das primeiras de Portugal, não deve ter sido alheia à divulgação que Miróbriga passou a ter.
João Gualberto da Cruz e Silva, investigador natural de Santiago do Cacém, fez em Miróbriga fez variadíssimos estudos em todo o concelho de Santiago do Cacém e, particularmente, em Miróbriga, onde promoveu inúmeras sondagens e escavações, tendo posto a descoberto o hipódromo, as termas, parte da «acrópole» e uma via.
Para além de ser o fundador e director do Museu Municipal de Santiago do Cacém, ao qual doou a maioria do espólio proveniente das suas escavações em Miróbriga, desenvolvidas entre 1922 e 1948, e uma colecção numismática, Cruz e Silva publicou no Album Alentejano e no Arquivo de Beja vários artigos sobre a arqueologia do concelho e mais especificamente sobre Miróbriga. No entanto, dos trabalhos arqueológicos aí efectuados não existe qualquer relatório detalhado, o que dificulta a contextualização dos materiais arqueológicos que, segundo este estudioso, seriam tão diversificados como «cerâmica de transição entre os últimos tempos da pedra pulida, e as idades do Bronze e primeira do Ferro», «louça grega», e materiais romanos (SILVA, 1945: 294).



Cruz e Silva admite que a antiga Miróbriga se estenderia pela área que é ocupada actualmente pela povoação de Santiago do Cacém e rapidamente conclui da sua ocupação pré-romana .
Este autor descreve-nos vários materiais da Idade do Ferro existentes, à época, no Museu de Santiago do Cacém.
Adere sem hesitação à fundação céltica de Miróbriga, em 500 a. C. e, numa atitude vincadamente histórico-culturalista, distingue três fases de ocupação do local:
1. «A de fixação». «Nesta fase se abrem ou se alargam no chisto profundas cavidades que seriam cobertas de junco ou de argila, ou até de grandes placas do próprio chisto, afim do castro ficar oculto, camuflado, para que de Poente, isto é, do lado do mar, não surgisse a surpreza de qualquer assalto dos que faziam da rapina o meio de abastecer as suas galeras, de escravos e mercadorias» (SILVA, 1946: 337).
A ocupação pré-romana está efectivamente comprovada. No entanto, não se poderá admitir que a ela se possa fazer corresponder linearmente as construções «escavadas no xisto», até porque o são grande parte das obras romanas em Miróbriga.
Na campanha de 1995/96 detectou-se, de facto, na área habitacional ainda em fase de escavação, uma situação de rocha escavada e que à primeira impressão tinha quase a aparência de um abrigo. No entanto, os buracos de poste a ela associados e o seu contexto arqueológico, no meio de outras casas romanas, fazem-nos admitir que se trataria de uma obra articulada com as habitações e que teria tido um revestimento perecível. Não podemos, infelizmente, apontar qualquer cronologia para a mesma, porque esta «concavidade» foi usada ao longo do tempo como uma lixeira, tendo sido a estratigrafia revolvida, havendo materiais arqueológicos misturados com objectos recentes.
No entanto, nas suas imediações, mas em contexto marcadamente romano, junto a uma escada que deveria dar acesso exterior a um segundo piso de uma casa de grandes dimensões, apareceu um machado de pedra polida calcolítico, que nos parece ter uma função votiva, uma vez que não tem quaisquer marcas de uso.
Não sabemos, portanto, identificar ou precisar cronologicamente a fase de «fixação» a que Cruz e Silva se refere.
2. «A de vencidos ou vencedores em que a evolução social se vai fazendo num sentido mais perfeito», quando os habitantes começaram a abandonar os abrigos e principiam a edificar.
3. «A de plena romanização», correspondendo, segundo este autor, à segunda metade do século I a. C. (SILVA, 1946: 336 e 337).
Corresponderia a esta terceira fase a edificação da «Porta Civitas», lápide que, segundo a descrição de Bernardo Falcão já mencionada (FALCÃO, 1931-32, Nossa Terra), teria aparecido em Miróbriga e que deveria pertencer a uma das portas da cidade; se construiu o hipódromo, e que «as suas águas medicinais se estudaram e se levantou, milagrosamente, o magnífico edifício das termas» (SILVA, 1946: 338).
Destinadas parcelarmente, segundo este investigador, ao emprego de águas minerais, ou seja medicinais, as termas de Miróbriga são descritas e é desenhada em pormenor a sua planta (SILVA, 1946: 338). A inscrição a Esculápio reafirmaria, na sua opinião, as virtualidades curativas do local .
Da sua descrição da entrada das termas conclui-se que estavam in situ «três altas colunas cilíndricas, de fino mármore, uma delas nichada, isto é, aderente à parede» (SILVA, 1946: 344), a que nos referiremos quando tratarmos da intervenção de D. Fernando de Almeida em Miróbriga.
Cruz e Silva faz uma apresentação cuidada das termas, dos seus compartimentos e pavimentos «coberto(s) de placas de lioz branco - calcário, jurássico - em que, parcialmente, está formada esta região, assim como da mesma pedra é o lambris, com um metro de altura, pouco mais ou menos, que revestia pela parte interna, todas as divisões do edifício. Este lambris estava seguro às paredes por meio de argamassa e por “gatos” de cobre ou bronze. As ombreiras das portas eram forradas de mármore cinzento-azulado muito fino. As salas que estão em frente da grande porta de entrada eram as mais ricamente ornamentadas, conhecendo-se ainda o sítio das molduras, para os painéis que não chegaram até nós, e nos capitéis os orifícios de suspensão de adornos» (SILVA, 1946: 345).
As informações e os registos gráficos publicados por este investigador são preciosos para o estudo dos edifícios termais de Miróbriga. Isto, porque, se, por um lado, nos permitem reconstituir o seu aspecto geral, à data das escavações aí promovidas por Cruz e Silva, por outro, permitem-nos aferir comparativamente o tipo de intervenções de «conservação, restauro ou mesmo reconstrução» efectuadas mais tarde, por D. Fernando de Almeida, que, na maioria dos casos, não foram objecto de qualquer publicação detalhada.


  Fotografia da campanha de Cruz e Silva em Miróbriga Câmara Municipal de Santiago do Cacém / Museu Municipal

Cruz e Silva, atendendo aos trabalhos que realizara em Miróbriga, concluiu que «uma parte da cidade fortificada estava no cêrro mais alto e nos três outros que o cercam» (SILVA, op. cit.: 342). O cerro mais alto estava ligado a outro mais baixo por meio de degraus de pedra assentes no xisto e nele «devia ter existido o Templum», que observado «à distância fica-se com a impressão de que deveria ser circular» (op. cit.: 343).
Pela descrição deste investigador, fica-se com a ideia que as plataformas onde se implanta o forum eram ainda pouco conhecidas. No entanto, a planta do templo absidial e as escadas que o ligavam à praça pública, num «cêrro mais baixo», eram já identificadas. De igual modo foram referidas algumas das construções da praça propriamente dita que, localizada nesse «cêrro inferior, dividido em vários compartimentos, seria destinado aos sacerdotes, e ainda o espaço vazio, fronteiro à porta, ou vestíbulo, reservar-se-ia, provàvelmente, à manutenção dos lumes para os sacrifícios ...» (op. cit., loc. cit.), pois aí apareceram as «oferendas a Apolo» a que já nos referimos na apresentação deste trabalho.
A primeira notícia sobre o hipódromo de Miróbriga é-nos dada por este investigador, tendo sido por ele publicada a primeira planta conjectural do mesmo: «As águias romanas havendo levantado a Marte, Vénus, Vulcano e a Esculápio os seus votos, estando, por assim dizer, a bem com os Deuses, edificam semelhante ao Stadio entre os gregos um circo tendo 395 passos de comprimento e 84 de largo».


Em anos posteriores, após a morte de Cruz e Silva, a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais convida os arqueólogos Afonso do Paço e Maria de Lourdes Costa Arthur para desenvolverem em Miróbriga trabalhos arqueológicos. Esta investigadora, que aí permaneceu alguns meses, nos anos de 1954 e de 1955, incidiu fundamentalmente a sua atenção na via que dava acesso às termas e nas casas anexas, havendo delas registos fotográficos de Abel Viana que já antes travara correspondência com Cruz e Silva.
Maria de Lourdes Costa Arthur publica, em 1983, um trabalho intitulado Meróbriga, Santiago do Cacém (Portugal), dedicado às campanhas que aí havia efectuado.
A direcção dos trabalhos arqueológicos passou a ser assegurada a partir de 1959 por D. Fernando de Almeida, que aí efectuou, praticamente sem interrupção, campanhas de escavação nas décadas de 60 e 70.
Os cadernos de campo de D. Fernando pertencem ao Museu Nacional de Arqueologia e muito do acervo fotográfico utilizado na exposição «Miróbriga: o Tempo ao longo do Tempo».
Do ponto de vista documental, é extremamente curioso o manuscrito que relata as escavações de 1959, cujos trabalhos começam a 3 de Agosto e terminam a 22 do mesmo mês.


 D. Fernando de Almeida em Miróbriga, Fotografia; Câmara Municipal de Santiago do Cacém / Museu Municipal


As primeiras campanhas iniciaram-se «pela parte mais alta do Castelo Velho, que supus ter sido ali o primeiro assento dos povoadores (...). Fiz trincheiras longitudinais e perpendiculares (...) escavei a grande construção a meio desta parte mais alta e que é nitidamente romana, do séc. III d. C. A parte da colina que fica em plano inferior a este mais alto também foi cortada em trincheiras quadriculadas; os espaços entre as trincheiras não eram iguais entre si, pois mandei abrir sanjas em sítios que julguei mais proveitosos, ou que aflora uma parede, ou por outro motivo».
A segunda campanha, iniciada em 8 de Agosto de 1960, incide fundamentalmente «entre a torre (templo?) e o muro que dá para a esplanada (...). Outro grupo segue a muralha que atravessa o 3.º plano e encontra uma pequena porta, com soleira e sulco na soleira. Os estudantes, em número aproximado de 20, ficam entre a 2.ª e a 3.ª muralhas, do lado das termas, onde procuram verificar o que há por ali».
Nessa campanha foram encontrados vários fragmentos de inscrições na área do «terreiro». A escavação estendeu-se ainda aos «terrenos laterais ao terreiro».
D. Fernando dá ainda conhecimento de ter mandado «restaurar parte da coluna de que aparecera a base e parte do fuste revestido de estuque, nas escavações do ano anterior».
Se bem que no texto não seja clara a localização da mesma, calculamos que se trate de uma coluna de quadrante situada no lado nordeste do forum, no que D. Fernando julgava ser uma domus.
Contudo, e uma vez que no forum são vários os exemplares integralmente «restaurados» e cimentados, não nos é possível chegar a uma conclusão definitiva.
Ainda nessa campanha de 1960, D. Fernando decide «explorar o circo» e é feita, pelos Monumentos Nacionais, uma planta do mesmo.
Segundo informação de D. Fernando (ALMEIDA, 1963: 149 e 1964: 3), o circo, depois de descoberto, foi novamente tapado para permitir a exploração agrícola, tal como já acontecera após as sondagens de Cruz e Silva (ALMEIDA, 1963: 149 e 1964: 3).
Sobre o hipódromo D. Fernando publica, em 1963, uma Nota sobre os Restos do Circo Romano de Miróbriga dos Célticos (Santiago do Cacém).
Dos trabalhos efectuados em 1962 existe, no seu caderno de campo, uma pequena referência que alude a escavações na vertente sul do alto do monte do Castelo Velho, limpeza e sondagens «do caminho para as termas» e «sondagens junto à capela de S. Brás». Efectivamente, em recentes limpezas e escavações, encontrámos esta área bastante revolvida e com materiais recentes misturados com espólio romano.
Campanha coordenada por D. Fernando de Almeida. 
Fotografia C.M. Santiago do Cacém, Museu Municipal

É nessa altura deslocada para o lado noroeste da praça pública, junto à calçada, «em cima de um plinto que estava ao lado e, da mesma pedra e dimensões ajustáveis» uma a inscrição encontrada no forum, «encostada ao rostrum» (ALMEIDA, 1964: 55).
Em 1964, publica Ruínas de Miróbriga dos Célticos, onde, segundo o seu autor, conta «em livro, a história das escavações a que me dedico de há anos. (...) não com o fim de dar um relato completo, para arqueólogos, do que ali tem sido encontrado e as conclusões a tirar, mas para tornar mais conhecido do grande público um dos locais de maior interesse do País (...)» (ALMEIDA, 1964: 3).
Nesse trabalho, D. Fernando admitia a ligação, por via romana, deste aglomerado a Salacia, Pax Iulia, Sines e aos Cúneos, em Lacobriga, conferindo-lhe, portanto, um papel axial na ligação entre várias cidades da Lusitânia.
D. Fernando detectou estruturas que distavam entre si aproximadamente 1 km, o que o levou a concluir ter tido Miróbriga um «amplo perímetro», se bem que não fosse «integralmente urbanizada» (ALMEIDA, 1964: 6).
Este investigador defendeu a tese de que Miróbriga, de origem céltica, foi arrasada e abandonada por altura das invasões do século V (ALMEIDA, 1964: 22). Teria sido uma ciuitas romana, que «teve magistri» e Município. «Nos séculos III-IV, alargaram-lhe o âmbito e transformaram o cimo da colina num santuário dedicado a Esculápio ? e a Vénus ?». (ALMEIDA; 1964: 71), local de peregrinação concorrido na época romana, com um complexo termal de apoio aos visitantes e um hipódromo ou circo, destinado a proporcionar-lhes «distracções» durante as festividades religiosas que se celebrariam em Miróbriga.
Em 1968, D. Fernando publica um artigo intitulado O Santuário Romano, Campestre, de Miróbriga dos Célticos, onde reforça a ideia de Miróbriga se tratar de um local de peregrinação, localizado fora de qualquer aglomerado populacional: «além do lugar propriamente dedicado à divindade, à sua morada, o templo e construções anexas, havia balneários com as suas latrinas, para uso dos peregrinos, e um edifício para distracções, geralmente um anfiteatro ou um teatro». Em Miróbriga os peregrinos podiam, segundo este investigador, «distrair-se em um circo» (ALMEIDA, 1968: 92 e 94).
D. Fernando, para além das escavações, fez inúmeros restauros e reconstituições ao longo de todo o sítio romano. Em documento datado de 1972, pertencente ao «Arquivo Morto» do Museu Nacional de Arqueologia, Miróbriga dos Célticos, Delimitação da Área Arqueológica e Incremento das Escavações, este investigador refere que «Para o templo de Esculápio foram levadas as colunas que lhe pertenciam e tinham ido para o vale: precisamente, para as termas romanas. Foi levantada parte das paredes, com o fim de sugerir o aspecto do templo a que não restava mais do que boa parte do podium e da escada central» (ALMEIDA, 1972: 2).



"Levantamento das colunas dos balneários. Campanhas promovidas por D. Fernando de Almeida"

Colocação das colunas provenientes dos balneários no Fórum de Miróbriga



A este trecho do documento de D. Fernando de Almeida cabe-nos fazer os seguintes comentários:
1. Os acidentes topográficos dificilmente permitiriam que as colunas resvalassem até à zona das termas e não há qualquer notícia das mesmas terem para aí sido carreadas em trabalhos anteriores. Pelo contrário, as descrições feitas por Cruz e Silva referem a existência de três colunas in situ nas termas;

2. Da existência dessas três colunas ainda in situ nas termas existe referência escrita de Cruz e Silva (SILVA, 1946: 344) e documentação fotográfica que nos permite concluir ser abusiva a ilacção de D. Fernando de Almeida.
3. Nas termas é ainda bem visível o negativo da implantação das colunas.

Gostaríamos, contudo, de salientar que a situação recriada no templo (parede e coluna adossada ) replicam a situação encontrada, nas «Termas Oeste», de onde foram retiradas.



D. Fernando sugere ainda, mais adiante, que o balneário teve de ser sujeito a diversas intervenções pois era «necessário restaurar uns revestimentos de paredes e colocação de capitéis existentes; finalmente, fazer uma pequena ponte em betão, forrado com o piso romano, que dali foi arrancado, mas está guardado, para se passar de tepidarium para caldarium» (ALMEIDA, 1972: 3). Estas intervenções foram, efectivamente, concretizadas, podendo ser ainda visíveis nas termas de Miróbriga muitas das reconstruções aí efectuadas, como as paredes e as pilastras que se situam
A ponte romana foi também sujeita a consolidações, algumas delas recorrendo a cimento, como detectámos quando de alguns trabalhos de consolidação e restauro, efectuados em 1992. Aliás segundo texto firmado por D. Fernando em 1972, este investigador afirma: «Na pequena ponte romana, em pedra, vizinha do balneário, já restaurei o que se tornava urgente fazer e não precisa de outros trabalhos além dos de voltar a limpá-la da cobertura que com mais de um palmo de terra reveste o taboleiro, para tornar a por a descoberto o piso romano, aliás bastante bem conservado. É que as vacas que por ali passavam, diàriamente, escorregavam no lageado e fui como que intimado a tornar a cobrir a calçada» (ALMEIDA, 1972: 3), como referimos em artigo já aqui publicado.
D. Fernando propunha ainda, nesse documento, a consolidação das paredes do circo, intervenções que foram efectivamente efectuadas, como ainda é facilmente detectável através da quantidade de cimentos utilizada.
Em Abril de l979, após a morte daquele especialista, era criada, no âmbito da Comissão Organizadora do Instituto de Salvaguarda do Património Cultural e Natural (COISPCN), uma comissão encarregada de estudar a situação da estação e elaborar um relatório sobre os principais problemas que com ela se prendiam.
Nesse mesmo ano, Maria Maia e Manuel Maia faziam um pedido para continuação dos trabalhos de D. Fernando de Almeida, que não foram levados por diante, uma vez que se aguardava o relatório da mencionada Comissão. Esse relatório, de carácter sucinto, foi finalmente apresentado, mas não foram tomadas então quaisquer medidas tendentes à resolução dos problemas por ele apontados: necessidade de serem encetadas negociações com vista à eventual criação de um «Museu de Sítio»; de se efectuarem trabalhos de consolidação de estruturas; de contratação de mais um guarda para a estação; de construção de infra-estruturas de apoio às ruínas; de elaboração de um roteiro e de definição de circuitos de visita, etc.
De 1971 data o trabalho de Maria Adelaide Garcia Pereira, «Subsídio para o Estudo da Terra Sigillata de Miróbriga».
Entretanto, foram publicados vários estudos parcelares sobre Miróbriga, na revista Setúbal Arqueológica (II-III, 1976-77): «Terra Sigillata de Miróbriga»; «Alguns Fragmentos de “Paredes Finas” de Miróbriga»; «Lucernas Romanas de Miróbriga» e «As Fíbulas de Miróbriga» assinados reciprocamente por Luísa Ferrer Dias, Jeannette Smit Nolen, Maria Elisabeth Neves Cabral e Salete da Ponte.
Na mesma revista, em 1979, publicaram Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares a «Cerâmica pré-romana de Miróbriga» e J. A. Horta da Silva e Vítor D. T. Mendonça uma «Nota prévia sobre Composição Mineralógica e Condições de Cozedura de Cerâmica pré-romana de Miróbriga».
Já em 1968, Jorge de Alarcão havia estudado e dado a conhecer alguns vidros provenientes de Miróbriga, que se encontram no Museu Municipal de Santiago do Cacém (ALARCÃO, 1968: 29-32)
Em 1981, no seguimento de contactos com arqueólogos americanos, lançou-se um projecto de cooperação internacional, «The Mirobriga Project», dirigido por arqueólogos das Universidades de Missouri-Colombia e Arizona e representantes portugueses. No decurso desse projecto, que se previa quadrianual mas que se prolongou até 1985, foram estudadas em pormenor diversas zonas: «acrópole»/forum, termas, zona habitacional e hipódromo, que contribuíram para um melhor conhecimento global deste Sítio Arqueológico.
Colaboraram nesse projecto José Olívio Caeiro, como responsável pela parte portuguesa, e Carlos Tavares da Silva.
Na primeira campanha, a equipa de Missouri concentrou-se fundamentalmente na zona do forum e do templo, na zona das termas e no hipódromo. José Olívio Caeiro encarregou-se, por sua vez, da área limítrofe à capela de S. Brás.
Na segunda e terceira campanhas, os trabalhos continuaram na área do Castelo Velho, tendo-se confirmado a ocupação pré-romana de Miróbriga, nas termas e na zona habitacional. Em 1982 foi feita a primeira planta geral das termas, tendo-se dado início, em 1983, ao levantamento topográfico do sítio, que foi completado em 1984.

Para todo o Sítio Arqueológico foi feito um sistema de referências orientado Norte-Sul.
Neste último ano, a campanha incidiu ainda no circo, onde foram feitas novas sondagens, e nas termas. São publicados de seguida os resultados, bem como estudos de alguns frescos de Miróbriga (BIERS et alii, 1984: 35-53), tendo sido consolidadas as pinturas murais.
Os resultados preliminares das escavações efectuadas pela equipa luso-americana foram sendo editados anualmente, na revista Muse, e aí se publicaram, em 1981, 1982 e 1983, os únicos estudos parcelares das sondagens feitas no forum, uma vez que os BAR não lhes dedicam senão uma pequena nota (BIERS et alii, 1988: 15).


Levantamento do Templo da Idade do Ferro, equipa Luso-Americana 
Desnho da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, Museu Municipal

A equipa luso-americana perfilha a opinião de que Miróbriga constituiria um aglomerado urbano importante, habitado desde, pelo menos, a Idade do Bronze, sendo as termas e o circo partes integrantes de um perímetro urbano ainda não definido em toda a sua extensão.
O forum da povoação - com as construções que, logicamente, lhe ficariam anexas - teria uma sucessão de ocupações que inclui, para além dos níveis de épocas anteriores, duas fases de construção da época romana, datando a mais antiga do século I. O templo centralizado dataria de meados do século I d. C., tal como a maioria das construções que se desenvolvem a Sul do mesmo - tabernae.
Em 1988 é publicado em Oxford Mirobriga: Investigations at an Iron Age and Roman Site in Southern Portugal by the University of Missouri-Columbia, 1981-1986, onde são sintetizados os trabalhos desenvolvidos e publicados os materiais arqueológicos aí exumados. Como já foi referido, as sondagens do forum não foram, até hoje, pormenorizadamente dadas a conhecer, devido ao facto de entretanto a equipa se ter desmembrado.
Em 1984, publicou-se a tese de doutoramento de José d’Encarnação sobre as Inscrições Romanas do Conventus Pacensis, trabalho fundamental ao estudo da Romanização do Sul do actual território português. Às inscrições de «Miróbriga e seu Termo» dedica um capítulo que vem, a muitos níveis, clarificar o tipo de ocupação humana na região.
O trabalho publicado por Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares, Pré-História da Área de Sines, o inventário publicado, em 1988, por Jorge de Alarcão no seu Roman Portugal, que faz uma abordagem sistemática dos sítios e do povoamento romano no actual território português, e ainda os Subsídios para uma Carta Arqueológica, editados em 1993, entre tantos outros trabalhos, foram, pois, uma base fundamental para o estudo da ciuitas de Miróbriga.



Data dos anos 90 o «Projecto de Valorização de Miróbriga» que teve continuidade até 2008, mantendo-se, contudo, alguns dos aspectos nele consignados ainda em vigor.




"Clube Europeu de Arqueologia. Réplica da Taberna romana de Miróbriga. Feira Agrícola de Miróbriga,

1992."]

Em relação a esse projecto de investigação, pode considerar-se genericamente três fases de concretização:
- uma primeira fase, centrada no levantamento das necessidades relativas à manutenção e conservação do Sítio Arqueológico e na criação de infra-estruturas de apoio ao visitante e aos investigadores;
- uma segunda fase, correspondendo ao reinício das escavações e dos trabalhos de conservação e restauro, dos edifícios termais, bem como a realização de actividades de sensibilização e divulgação;
- uma terceira fase, centrada num conjunto de acções desenvolvidas após a assinatura de um Acordo entre a Secretaria de Estado da Cultura, em Novembro de 1994, que permitiu a construção do Centro Interpretativo de Miróbriga, inaugurado em 2001, e a execução de muitos materiais interpretativos e de divulgação e a continuação dos trabalhos de investigação e de conservação, tendo-se desenvolvido múltiplos estudos e levantamentos de que recentemente demos conta em comunicação apresentada no 1º Encontro de Arqueologia e História de Alcácer do Sal «Balanço dos Últimos Trabalhos de Investigação e de Valorização de Miróbriga».


"Divulgação. RTP2 em Miróbriga 1992"

Desenhos e Projecto, Arqtª Paula Santos



https://picasaweb.google.com/barata.filomena/MOML0001?authuser=0&authkey=Gv1sRgCMeXpsKyoMzm5QE&feat=directlink





Desde 2005, a equipa que coordena o programa de valorização de Miróbriga conta com a colaboração da Universidade de Frankfurt, através do projecto coordenado pelo Doutor Félix Teichner sobre «A Perimetria de Miróbriga», tendo este investigador aí promovido trabalhos de prospecção geofísica e de escavação.

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Texto: a partir de artigo publicado na Al-Madan